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não vou mentir. dói em mim também. e dói muito.
desde o primeiro momento vem doendo aqui dentro. desde a primeira vez que decidi... e fui juntando as peças da decisão, os bloquinhos para poder alcançar aquilo, mesmo sabendo que assim que eu alcançasse os bloquinhos ruiriam e a queda seria grande, muito grande. por isso ainda dói."
continuo a rondar aquele casarão. não consigo enfrentar a idéia de que o baile acabou, mas é fato. o sol realmente ainda não nasceu, uma densa nuvem negra o cobre. os sinos reclamam o dia, ele não vem. troco a máscara e a fantasia, troco o lado e o lugar, mas bons bailes nunca são esquecidos e as músicas quando parecem se repetir noutros, o primeiro é sempre o mais lembrado. sempre há um primeiro baile, nem sempre ele é o único. quando se gosta de vida. o baile mais bonito que já participei acabou. ainda rondo o casarão antiquado, mas perfeito, onde passei muitas horas dançando e feliz. houveram, sim, os momentos em que caí do salto e todos me olharam e me recriminaram por não saber andar com todo o glamour que o baile oferecia. às duras penas aprendi a simular o glamour. desisti. tirei os sapatos e machuquei os pés nos outros pés que me pisavam. mas o baile ainda assim foi lindo. um baile inesquecível. para sempre eterno na minha memória e em meu coração. para sempre quardarei a máscara e a fantasia usada. para sempre sonharei com as horas passadas. mas agora tento observar, mesmo na escuridão, qual seria o meu caminho para casa. saio andando para ver se encontro. e na escuridão posso ainda enxergar o casarão do último baile. e uma silhueta na janela. pensava que não havia mais ninguém lá. sento e enquanto consigo ainda escutar na memória as melhores músicas, observo a silhueta de alguém dançando ainda. levanto e de olhos fechados rodopio pelas ruas, solitária. não tropeço nem caio. meu mundo agora é um vazio onde crio meus sons e vou dançando através do nada, acompanhada de ninguém...
todo fim é uma morte. pensemos neste como uma: lembrar dos bons momentos para se manter bem e continuar, era isso que o morto gostaria que fosse feito.