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(((entre_parenteses)))

(parte da minha vida (e de meus pensamentos mais profundos) frases desconexas (como se eu (algum dia) houvesse sido altamente coerente) e mais(...))

{a vida sem musica é um equivoco}
nietzche

czwartek, września 04, 2003

"First, there was darkness..." 

só por hoje eu não quero mais chorar
só por hoje eu espero conseguir
aceitar o que passou e o que virá
só por hoje vou me lembrar que sou feliz


hoje eu já sei que sou tudo que preciso ser
não preciso me desculpar e nem te convencer
o mundo é radical
não sei onde estou indo
só sei que não estou perdido
aprendi a viver um dia de cada vez


só por hoje eu não vou me machucar
só por hoje eu não quero me esquecer
que algumas pouco 24h
quase joguei minha vida inteira fora

não não não não
viver é uma dádiva fatal
no fim das contas ninguém sai vivo daqui
mas -
vamos com calma!

só por hoje eu não quero mais chorar
só por hoje eu não vou me destruir
posso até ficar triste se eu quiser
é só por hoje, ao menos isso eu aprendi.

(só por hoje - legião urbana)


apenas para não ficar "em branco" por muito tempo. mas não acho que eu deva escrever apenas por isso. escrever me é um prazer e não obrigação. também tenho prazer em ser lida e respondida, sim, quem não tem?

ando muito ruim. se eu for escrever serão coisas absolutamente rdepressivas mas sem aquele sentimento todo que um dia tive... bom, apenas para não ficar tão seca assim essa mensagem, vou postar um conto por mim escrito há alguns tempos para um defunto blog que tentei manter com meus amigos...

E, ao abrir os olhos, ainda o que restava era escuridão.

Estava só. O ;unico espectador de uma peça exclusiva. As expessas cortinas púrpuras mantinham-se fechadas. Mas as luzes haviam sido apagadas. É mesmo, as velas haviam se consumido há muito tempo. Foi então que dormira. Sonhara que dormira escutando os falatórios do palco, enquanto as tagarelas da platéia se calavam. Sonhara com uma voz doce e suave, vinda dos fundos. Cantarolando uma antiga melodia de sua terra. E tão pouco dormira que agora sonhava que acordava.

Só.

Teria o espetáculo terminado e todos ido embora enquanto dormia? Impossível. Haveriam guardas que o acordariam e pediriam que saísse. Tinha a certeza de que estava sonhando. Um daqueles sonhos conscientes. Tinha horror a eles. E, para seu terror, os tinha com certa freqüência. Acordava suado e gemendo quando eles ocorriam. Com o dono da estalagem batendo na porta do quarto, pedindo silêncio. Seus gritos eram estridentes.

Este, em particular, não lhe causava medo. Mas curiosidade. Era a primeira vez que tinha destes sonhos em público. Isso era desesperador. Mas não sentia-se assim. O que sentia era um prazer por estar assim. Um prazer que jamais sentira.

As cortinas agora abriam-se vagarosamente.

Com a platéia vazia, não havia necessidade de sentar-se tão longe. Levantou-se e foi caminhando em direção ao palco. Tentava enxergar o que viria. Tudo era escuridão. Hora ou outra tropeçava em alguma coisa no chão. Imaginava serem as pessoas que não estavam em seu sonho. E ria. Teriam a audácia de acordá-lo? Sonâmbulo. Não. Sua aparencia era amedrontadora nestes sonhos. Teriam medo dele? Não se importava. Queria alcançar o palco.

Nestes sonhos, temia sempre a água. Quando criança havia afogado-se. Quando achou que morrera acordava em seu quarto. A família toda em luto, chorando. Aqueles abraços nojentos. E a sensação de perda no ar. Ninguém naquela casa imaginaria que ele sentia-se roubado. A sensação pela qual passara nunca esquecera. E, nesta noite, sentia-se extasiado como naquele dia.

Olhou novamente as cortinas. Havia apenas uma pequena abertura. Pouco conseguia ver. Um banco. Uma coluna de madeira. Nada mais. Nenhum ator.

Tropeçou mais uma vez. Desta vez ele caiu. Levara as mãos para frente a fim de suavizar a queda. Não foi o chão que tocou. Era peludo e macio. 'Estava tão cheio que sequer pude perceber que haviam tapetes' pensou.

Levantou-se e continuou a caminhar em direção ao palco. Caminhava com mais cuidado para não cair novamente.

Um cuidado salvador. Pois percebeu que o chão terminava bruscamente. E estava a poucos metros do palco. Por mais que tentasse, não enxergava nada além no palco. A escuridão parecia mais densa agora. E mais densa ainda onde não havia chão. Não se usavam fossos para afastar a platéia do palco em teatros para a alta-classe. A realeza assistia espetáculos naquele teatro. Como poderiam? Era um insulto.

Contornava aquele abismo negro. Queria chegar ao palco. O que estaria escondido atrás daquelas cortinas? Olhou-as uma vez mais. Tinha certeza de que eram púrpuras quando estava lá atras. Mas agora constatava de que eram vermelhas. Um vermelho vivo. Poderia dizer que pulsavam junto de seu coração. Aquela cor.

Parou. Alguém vinha acendendo as luzes. Procurou enxergar quem era. Não tinha voz para chamar. Só então percebera que não havia som algum. E alguém vinha acendendo as luzes. Mas as luzes não eram mais do que vagalumes que iluminavam apenas si mesmas. Não podia enxergar quem era.

Foi então que novamente ouvira aquela mesma voz que lhe chamara a atenção ao adormecer. Vinha do palco. Queria chegar lá. Seria a moça tão perfeitamente bela como era a sua voz? A vontade de ir ao palco aumentava.

As cortinas abriram-se mais alguns centímetros. E aquela voz o hipnotizava.

Seja lá quem fosse que estava acendendo as luzes, agora se afastava. Havia outra carreira de velas do outro lado para serem acesas.

Começou a correr em volta daquele abismo. Precisava chegar naquele palco. Reconhecer aquela voz. Conhecer a sua dona. Mas parecia não haver lugar por onde passar. E cada vez que caminhava para o lado parecia que o palco se afastava mais e mais. E aquela voz ficava cada vez mais alta.

Deu de encontro com uma parede. Passou a mão no rosto e sentiu que este encontrão tirara sangue de suas narinas. Tirou o lenço do bolso e limpava o sangue. Não parava de sangrar. Mas não se preocupava com isto. Queria chegar àquela voz. Gostaria de poder enxergar-se. Deveria estar apresentável para a bela dama de vóz adorável.

Tateava aquela parede. Não haviam indícios que o levassem ao palco. Bem, havia tomado o lado errado como certo. Virou-se e voltou a correr. Desta vez com as mãos a sua frente para evitar nova batida. Esqueceu-se do chão. Tropeçou. O terror de cair no abismo o tomou. Se caísse, com certeza acordaria e jamais poderia descobrir aquela voz.

Era estranho como naquela escuridão toda podia enxergar as cortinas perfeitamente definidas. Tudo o que enxergava era o palco. E os centímetros perto de onde estavam seus pés. Sequer mesmo as suas mãos segurando o lenço que sabia estar sujo de sangue ele via. Isso não o incomodava. Desejava chegar ao palco.

A vóz ficava cada vez mais alta. As cortinas abriam-se lentamente. Tão lentamente que não perceberia se ficasse olhando-as fixamente. Era como o desabrochar de uma flor no campo. Um flor que abre-se lentamente. A primeira flor da primavera. Destacando-se na neve.

E viu o 'Iluminador' - foi assim que o denominou. Parecia também procurar uma maneira de chegar ao palco. Haviam vagalumes apagados no palco.

Agora caminhava mais devagar. Atento aos passos. Correr poderia despertá-lo. Não queria isto. De tão devagar que caminhava, parecia que andava para trás. Mas o Iluminador se aproximava. E isto o fazia ter a certeza de que andava na direção certa.

Um ruído vindo do abismo chamou sua atenção. Parecia um grito. Levou as mãos aos ouvidos. Isso não impedia-o de escutar aquele ruído que em pouco tempo sobrepunha a vóz. Reconhecia o grito. Era o seu grito de terror que anunciava o fim da noite. Denunciava o raiar do sol e o despertaria em segundos.

Girava nos calcanhares. Procurava alguma maneira de abafar quele grito que agora vinha de todos os lugares. O palco estava quase ao alcance. Não poderia acordar agora.

Abriu a boca para gritar. E gritou. Não. Gritava. E agora era o seu grito que ouvia. E estava deitado em sua cama. E virou-se de bruços. E afogou seu grito no travesseiro.

Aquele silêncio tomou conta do teatro. Ele alcançara o palco. Estava em frente as cortinas. Novamente púrpuras e fechadas. Olhando para trás podia ver-se sentado e dormindo. Mas ele não virou-se. Apenas sabia.

Atrás dele o abismo parecia crescer e devorar as cadeiras da platéia. Mas não se importava. Estava no palco. E a vóz recomeçara cantar. Tocou as cortinas. Pareciam molhadas. Eram rubras novamente. E manchavam suas mãos. Uma tinta espessa. Mas não se importava. Abriu as mãos, jogando a cortina violentamente para os dois lados. E obedecendo a este movimento, as cortinas abriram-se completamente e ele estava do outro lado do abismo.

Contemplava a cena.

O Iluminador estava logo atrás. Sentiu suas mãos tocando suas costas. Sentiu o grito saindo de sua garganta. Sentiu as luzes dos vagalumes se expandirem e iluminarem todo o teatro. Em um flash viu seu corpo inanimado caindo em seu sepulcro. O cobriam com a água.


Acordou.

Estava parado, em pé, no palco. Seria a primeira vez que apresentaria-se em público. Estava nervoso. Os outros atores corriam para seus lugares. O burburinho da platéia diminuia até deixar o teatro em um quase silêncio.

Através de uma abertura na cortina ele podia ver seu irmão mais novo sentado no meio da multidão que o asistiria. Ele parecia triste. Queria atuar mas o pai não queria mais um desgarrado na família.

Ele havia sido expulso de casa quando disse que viveria no teatro. Temia pelo irmão. Com certeza os pais não sabiam que ele estava lá. As cortinas estavam abrindo-se. Um calafrio percorreu seu corpo ao ver que toda a sua família estava lá. De luto. Como naquele dia.

E ele ouviu mais uma vez aquela voz. Era a sua irmã. Sua vóz era melodiosa e triste. Pareciam lágrimas sonorizadas. Iisso o fez gritar. Todos olhavam para ele. Sentiu as mãos de alguém o empurrarem. E sentiu a corda o segurar. Pelo pescoço. Seu nariz sangrou. Seus lábios sorriram.

Foi a primeira vez que se apresentou em público.

said and done Unknown  # 9:53 PM

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