"os seus olhos são espelhos d'água, brilhando você pra qualquer um. uh, por onde esse amor andava, que não viu você de jeito algum? que vontade de ter você, que vontade de perguntar se ainda é cedo? que vontade de merecer, um cantinho do seu olhar, mas tenho medo"
depois de muito tempo os parênteses voltam à ativa. isso de certa forma me faz sentir falta daquele layout de teias de aranha, combinava com o descaso da minha vida externa e agora combina com o descaso que eu tenho feito em escrever os parênteses. mas estão eles todos bem guardados em cadernos e folhas avulsas espalhadas pela casa e na mente...
hoje estou me sentindo péssima. mas estou a dizer que estou bem, afinal, ando bem melhor do que andava antes. não fiz o que tinha programado fazer para ler um livro e simplesmente ficar me olhando no espelho a chorar... ou pelo menos tentar chorar, porque os olhos permaneceram secos... por conta disso sinto-me como se não fosse merecedora de ter essa vida e as oportunidades que tenho tido continuamente. tudo besteira, eu sei. mas essas coisas passam por minha cabeça e hoje resolvi que queria escrevê-las em público.
sinto ainda muita culpa, embora saiba que ela não adianta em nada. ainda carrego muitos conceitos e ideias que me levam ao erro, e estou trabalhando nisso. mas hoje, por hoje, deixei-me levar pela tristeza, pelo dissabor da solidão. tentei também fugir mas quando percebi parei no meio do caminho. recuar nem sempre é fuga, no meu caso esse recuo foi o oposto, recuei da fuga para voltar à realidade. e este texto é a fuga. deixarei ela escrita pois aqui, dentro de mim, paro de fugir.
desconexo, esse sentimento de não-merecer me leva à raiz do problema que me trouxe aqui, nesta clínica. minha fuga, em querer ajudar o outro antes de estar apta a ajudar a única pessoa que realmente posso ajudar, é furada aqui para qualquer lado que olho, assim como é furada lá fora, assim como foram furadas e frustradas as tentativas externas de ajudar-me quando eu não queria essa ajuda, ou não via, ou não acreditava...
me sinto tão confusa, hoje, neste dia tão frio que faz aqui, eu só queria aquele conhecido colo para deitar a cabeça, receber um afago, conversar sério, deixar as lágrimas rolarem, me calar num beijo, sentir aquele calor, não esquecer... como posso esquecer? como suportar? ah, samsara sem fim...